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Refrações de Rodolfo Quinafelex sobre a obra “Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia” de Gilles Deleuze e Félix Guattari.

“Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas. A árvore é filiação, o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo “ser”, mas o rizoma tem como tecido a conjunção “e…:”. Há nesta conjunção força suficiente para sacudir e desenraizar o verbo ser. Entre as coisas não designa uma correlação localizável que vai de uma para outra reciprocamente, mas uma direção perpendicular, um movimento transversal que as carrega uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adquire velocidade no meio”. (DELEUZE; GUATTARI, p. 04).

“O mundo perdeu seu pivô, o sujeito não pode nem mesmo mais fazer dicotomia, mas acede a uma mais alta unidade, de ambivalência ou de sobredeterminação, numa dimensão sempre suplementar àquela de seu objeto. O mundo tornou-se caos, mas o livro permanece sendo imagem do mundo. Estranha mistificação, esta do livro, que é tanto mais total quanto mais fragmentada. O livro como imagem do mundo é de toda maneira uma idéia insípida. Na verdade não basta dizer Viva o múltiplo. É preciso faze-lô, não acrescentando sempre uma dimensão superior, mas, ao contrário, da maneira simples, com força de sobriedade, no nível das dimensões de que se dispõe”. (DELEUZE; GUATTARI, p. 14)

Abra o seu navegador. Por qual página você começa na Internet e para onde você vai? Mudamos a maneira como construímos nossos caminhos, das formas mais diversas, e cada um consegue exercer o processo de aprendizado a sua maneira, completamente autônoma e particular. O rizoma é emblemático: falamos de multiplicidade. De diferenças que relacionam-se entre si. Sem distinção entre o indivíduo e a coletividade. O que os une ou separa é apenas um desejo social. E é este desejo que está sempre em movimento, sempre composto de diferentes elementos que dependem de cada situação. Sob essa perspectiva, não se trata do começo, nem do fim. Mas sim do meio.

“É somente quando o múltiplo é efetivamente tratado como substantivo, multiplicidade, que ele não tem mais nenhuma relação com o uno como sujeito ou como objeto, como realidade natural ou espiritual, como imagem e mundo. As multiplicidades são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes. Inexistência de unidade ainda que fosse para abortar no objeto e para “voltar” no sujeito. Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza. As leis de combinação crescem então com a multiplicidade)”. (DELEUZE; GUATTARI, p. 15)

Nos deparamos com a diversidade e a pluralidade. Nos conectamos de um ponto qualquer com outro através de ligações de diferentes naturezas. Não falamos de níveis e valores hierárquicos do tipo “mais real” e “menos real”, mais verdadeiro e mais falso. Falamos é de uma ordem onde só há diferenças, mesmo nos seus valores. Aquilo que eu chamo hoje de “belo” não é o mesmo que chamei ontem com o mesmo nome. Falamos de um desejo que está sempre em movimento, composto de diferentes elementos, dependendo de cada situação.

“O que quer dizer amar alguém? É sempre apreendê-lo numa massa, extraí-lo de um grupo, mesmo restrito, do qual ele participa, mesmo que por sua família ou por outra coisa; e depois buscar suas próprias matilhas, as multiplicidades que ele encerra e que são talvez de uma natureza completamente diversa. Ligá-las às minhas. Núpcias celestes, multiplicidades de multiplicidades. Não existe amor que não seja um exercício de despersonalização sobre um corpo sem órgãos a ser formado; e é no ponto mais elevado desta despersonalização que alguém pode ser nomeado. Recebe seu nome ou seu prenome, adquire a discernibilidade mais intensa na apreensão instantânea dos múltiplos que lhe pertencem, e aos quais ele pertence”. (DELEUZE; GUATTARI, p. 47)

Vivemos uma fase de desconstrução de valores para tentarmos dialogar com diferenças que passamos por tanto tempo ignorando, ou seria essa de fato uma nova maneira de lidar com a vida? Nos baseando em um processo de vivência e aprendizado totalmente particular, inerente ao que cada um julga ser o melhor de acordo com seus interesses? É preciso considerar que cada conceito, é fruto de um entendimento. Será que mudamos como seres humanos? A mesma riqueza de oportunidades, caminhos e escolhas que fazem com que a vida tenha se tornado tão ampla, pode ao mesmo tempo trazer a agonia e a pressão de tantas possibilidades. Como trilhar tantos caminhos? Como entender tantos atalhos? E o que perseguir considerando apenas a jornada, e não a linha final?

“Para onde vai você? De onde você vem? Aonde quer chegar? Essas são questões inúteis. Partir ou repartir de zero, buscar um começo ou um fundamento, implicam uma falsa concepção da viagem e do movimento.” (DELEUZE; GUATTARI, p. 34)

 

Créditos:
Texto, Roteiro, Ilustrações, Trilha Sonora e Edição:
Rodolfo Quinafelex

Este episódio contou com a colaboração especial de Marcos Beccari.

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