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Refrações de Rodolfo Quinafelex sobre o livro”Investigações Filosóficas” de Ludwig Wittgenstein.

Quem não tem diante de si a multiplicidade dos jogos de linguagem, estará talvez inclinado a fazer perguntas como: “O que é uma pergunta”? Isto é o enunciado de que não sei tal coisa? Ou é o enunciado de que desejo que o outro possa me dizer? Ou é a descrição da minha condição mental de incerteza? E o chamado de “socorro!”? É uma descrição como essa? Pense em quantas coisas diferentes são chamadas de “descrição”: A descrição da posição de um corpo por meio de suas coordenadas; A descrição de uma expressão facial; A descrição de uma sensação táctil;… do humor. Pode-se certamente substituir a forma habitual da pergunta pelo enunciado ou pela descrição: “quero saber se ….”, ou “estou em dúvida se ….” Mas, com isso…, não se aproximam mais entre si… os diferentes jogos de linguagem. (Ludwig Wittgenstein)

Nossos claros e simples jogos de linguagem não são estudos preparatórios para uma futura regulamentação da linguagem, como se fossem primeiras aproximações sem considerar o atrito e a resistência do ar. Os jogos de linguagem estão aí: antes como objetos de comparação, que pela semelhança e dessemelhança devem lançar uma luz nas relações da nossa linguagem. Só assim podemos realmente escapar da injustiça ou do vazio das nossas afirmações, ao considerar o modelo como o que ele é: como objeto de comparação, por assim dizer, como medida… E não como preconceito ao qual a realidade tem que corresponder. (Ludwig Wittgenstein)

Contexto, discurso, compreensão, paradigmas, limites. A linguagem explica a vida, ou entendemos a vida através da linguagem? Como se dá a relação de atribuir palavras ao que vemos, sentimos e pensamos? Do que estamos falando? Como se dá esse processo internamente e externamente? Pessoas de diversos lugares, com outros repertórios de palavras, outras formas de expressar seus pensamentos, tem uma maneira diferente de perceber a vida e de como ser e estar no mundo? Investigações filosóficas sobre o papel da linguagem que, ao buscar intermediar a criação de processos da comunicação, cria limites nestes mesmos processos.

Pode-se pensar sem falar? E o que é pensar? Ora, você nunca pensa? Você não pode observar e ver como isso se efetua? Isso deveria ser simples, é claro. Você não tem que esperar por isso como um acontecimento astronômico… E então, talvez, fazer na pressa a sua observação. Bem, o que se chama ainda de “pensar”? Para que se aprende a utilizar a palavra? Quando digo que pensei, – tenho que ter sempre razão? Que tipo de erro existe ali? Há circunstâncias sob as quais se perguntaria: “Era o que fiz ali realmente um pensamento? Não me engano?” Se alguém, no transcurso de uma ordem de pensamento, realiza uma medição: ele interrompeu o pensamento quando, ao medir, não falou consigo mesmo? Quando penso numa linguagem, os ‘significados’ não estão na minha mente ao lado da expressão linguística. Porém, a própria linguagem é o veículo do pensar. O pensar é um tipo de fala? Pode-se dizer que é o que diferencia a fala pensada da fala sem pensamento. E ele parece ser um acompanhamento da fala. Um processo que talvez também acompanhe outra coisa, ou possa transcorrer por si mesmo. (Ludwig Wittgenstein)

Pensar que a realidade não determina a linguagem, mas que a linguagem articula a nossa visão dessa realidade. Abandonar o conceito de que exista uma suposta estrutura comum, para admitir uma complexidade que dá origem a verdadeiros jogos de linguagem, onde termos linguísticos tem significados diferentes em outros contextos, considerando a cultura e a história. Entre nossas explorações, nossa capacidade de criação, nossas tentativas que buscam romper barreiras e nossos enganos. “As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo.”

O que acontece quando nos esforçamos, talvez pela escrita de uma carta, para encontrar a expressão correta para o nosso pensamento? Esse modo de falar compara o processo a uma tradução ou descrição: os pensamentos estão ali (talvez já desde antes), e nós só procuramos pela expressão deles. Essa imagem serve mais ou menos para diferentes casos. Mas não pode ocorrer de tudo aqui? Eu me entrego a uma certa disposição, e a expressão vem. Ou tenho em mente uma imagem que pretendia descrever. Ou ocorreu-me uma expressão em inglês e quero me recordar da correspondente em português. Ou faço um gesto e me pergunto: “Quais são as palavras que correspondem a esse gesto?” e etc. Se se pergunta agora se você tem o pensamento antes de ter a expressão, o que se teria que responder ali? E sobre a pergunta: “Em que consistia o pensamento, tal como ele estava antes da expressão?” (Ludwig Wittgenstein)

Se nos permitirmos ampliar a ideia de que aprender uma linguagem não é simplesmente dar nome as coisas, como faríamos para nos comunicar sem esse suposto repertório? Com mímicas? Desenhos? Entre tentativas, equívocos e acertos, os gestos mais comuns como um balançar de cabeça podem significar coisas diferentes de acordo com a cultura de cada lugar. A ideia dos jogos de linguagem demonstra uma linguagem que tem vida, e que é articulada através das diferentes experiências humanas e seus respectivos grupos nos seus tempos. Aprender uma linguagem então, seria muito mais do que designar objetos de forma isolada. Trata-se de acessar um outro entendimento do mundo.

Como seria se as pessoas não exteriorizassem as suas dores? Não gemessem, não fizessem caretas etc. Então não se poderia instruir uma criança no uso da expressão ‘dor de dente’. Suponhamos que a criança seja um gênio e inventa por si mesma um nome para a sensação! Mas agora ela não poderia, certamente, fazer-se entender com essa palavra. Portanto, ela compreende o nome, mas não pode explicar para ninguém o seu significado? Mas o que significa, então, que ‘ela deu nome à sua dor’? Como ela fez isto: nomear a dor? E seja o que for que ela tenha feito, qual é o seu propósito? Quando se diz “Ela deu um nome à sensação”, esquece-se que muita coisa já tem que estar preparada na linguagem para que a pura denominação tenha sentido. E se dizemos que alguém deu nome à dor, então a gramática da palavra “dor” é aqui o preparado; ela exibe o posto que a nova palavra irá ocupar. (Ludwig Wittgenstein)

Como pensar a linguagem e suas ramificações? Admitir a complexidade por trás da linguagem, nos intui a abandonar uma possível intenção de fazer da própria linguagem, uma suposta pintura ou retrato da realidade, passando a utilizá-la como uma caixa de ferramentas. Não se trata mais de articular seu repertório por uma busca do que é verdadeiro ou falso, mas sim de saber como usá-la, transformando o aprendizado de uma língua em um ato secundário dentro de um processo muito maior, indo além da designação de objetos isolados. Como pensar os limites da linguagem humana? E a linguagem das máquinas? Da capacidade de criação e resolução de problemas entre programadores, de processos de compreensão, de códigos de diferentes níveis que podem tanto nos aproximar quanto nos distanciar dos processos que acontecem nos hardwares. No surgimento cada vez maior de linguagens de programação que buscam diferentes formas de articular código, de criar novas formas de resolução, com diferentes aproximações das linguagens humanas, que por sua vez se desdobra de tantas formas diferentes entre pessoas ao redor do mundo. Como assimilar a potência e os limites da linguagem? E seria possível então dizer, que quando aprendemos novas linguagens, descobrimos novas formas de acessar a vida?

A filosofia não pode, de nenhum modo, apalpar o uso real da linguagem, pois ela só consegue, ao fim, descrevê-lo. Porque ela tampouco consegue fundamentá-lo. Ela deixa tudo como está. Ela também deixa a matemática como está, e nenhuma descoberta matemática pode fomentá-la. Um “problema relevante da lógica matemática” é para nós um problema da matemática, como qualquer outro. Não é assunto da filosofia resolver a contradição por uma descoberta matemática, ou lógico-matemática. Mas tornar visível a condição da matemática que nos inquieta, a condição antes da solução da contradição. E com isso não se evita, talvez, uma dificuldade. O fato fundamental está aqui: estabelecemos regras, uma técnica, para um jogo, e então, quando seguimos as regras, não sai como havíamos assumido. Portanto… é como se nos embaraçássemos nas nossas próprias regras. (Ludwig Wittgenstein)

Créditos:
Texto, Roteiro, Ilustrações, Trilha Sonora e Edição:
Rodolfo Quinafelex

Agradecimento especial ao meu irmão, Vinicius Quinafelex Alves, pela participação no código de programação da arte! 🙂

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